A tecnica da Taypa

A taipa é uma técnica herdada das culturas árabes e berbéres, constitui-se de paredes feitas de barro amassado e calcado, por vezes misturado com cal para controlar a acidez da mistura que vem a ser comprimida entre taipais de madeira desmontáveis, removidas logo após estar completamente seca, formando assim uma parede de um material incombustível e isotérmico natural e particularmente barato. Embora seja um material de construção bastante utilizado, sobretudo em regiões argilosas, e tenha uma resistência comparável à do cimento, não foi muito usada para a construção de fortificações.
As paredes de taipa têm como inconveniência serem facilmente atacadas por roedores e a fraca estabilidade a esforços laterais provocados pelas cargas da cobertura. Por isso não eram indicadas para a construção de grandes edifícios, além de serem facilmente degradadas pela água e a umidade. Assim são executadas sobre fundações de alvenaria de pedra ordinária com cerca de 60 cm acima do solo, evitando assim as humidades ascendentes. As paredes de taipa podem vir a ser revestidas, isso ocorre p
rincipalmente com reboco à base de cal apagada.

O QUE É TAIPA DE PILÃO
A chamada taipa de pilão é um processo antigo de construção usado já pelos jesuítas nas primeiras construções de São Paulo, sendo de taipa o antigo Colégio. Com a migração dos primeiros habitantes de Piratininga, fundando povoações vizinhas, estes núcleos primitivos tinham como característica comum suas igrejas e seu casario construídos em taipa. São exemplos destes núcleos: Mogi das Cruzes, Embu, Taubaté, São Roque, Sorocaba, Jundiaí, Santana do Parnaíba, Itu, Atibaia e outros.

                  

Os bandeirantes do ciclo da caça ao índio e do ciclo do ouro levaram a taipa de pilão para Mato Grosso e Goiás. Em Minas Gerais, o processo não deu resultado devido à inclinação dos terrenos montanhosos, nos quais as enxurradas provocavam a erosão das paredes de taipa. Os mineiros inventaram, então, a técnica da taipa de mão, ou, pau-a-pique, introduzida por eles em São Paulo, quando para cá migraram, ao final do ciclo do ouro. A técnica da taipa de pilão era muito simples e resistente quando bem construída, encontrando-se, ainda, exemplares deste tipo de edificação com mais de duzentos anos. A mão de obra empregada era o braço escravo - índio ou negro - e perdurou até o final do ciclo da cana de açúcar, em São Paulo, em meados do século dezenove. Com o início do ciclo do café, e a vinda da mão de obra européia, seus mestres de obra trouxeram o uso do tijolo queimado que, embora já conhecido, só foi utilizado a partir de então. 

COMO ERA FEITA A TAIPA DE PILÃO
As paredes da taipa de pilão eram levantadas de alicerces com 50 centímetros de profundidade. Dentro de uma forma de tábuas móveis, de formato retangular colocava-se barro feito com terra peneirada e água, juntando-se em seguida, fibras vegetais, sangue de gado, Oleo de peixe, crina de animais e estrume de gado.

Socava-se então com os pés ou pilão, até se obter uma compactação bem firme. Cada forma tinha, em média, 40 centímetros de altura, que depois de socada, passava a 20 centímetros, aproximadamente. Essas camadas eram feitas ao mesmo tempo em todo o perímetro da obra para dar uma resistência homogênea às paredes, tal como se faz hoje com o concreto. Nas construções comuns as paredes tinham de 40 a 80 centímetros, e um metro ou mais nas construções maiores.    

          

                                                                                                                                                                       Para a proteção contra a chuva – o maior inimigo das paredes de taipa – o local escolhido era sempre um terreno plano, evitando-se assim as enxurradas. Os beirais eram largos para evitar que a água da chuva umedecesse as paredes. Não se conhecia o uso da calha. O aspecto da construção era retangular, com o pé direito alto e o telhado, feito de duas ou quatro águas, coberto com telha canal.

O QUE É E COMO SE FAZIA A TAIPA DE MÃO OU PAU-A-PIQUE
Como já foi mencionado, para os terrenos em declive, foi criado o sistema de taipa de mão ou pau-a-pique, utilizado na Capitania de S. Paulo ao final do ciclo do ouro. Era um trabalho essencialmente de carpintaria, pois a casa era primeiramente armada em madeira, ficando com o aspecto de uma gaiola. Os esteios eram cravados no chão e ligados entre si por vigas horizontais (baldrames e frechais) que formavam um sistema rígido de sustentação do telhado. Para a construção das paredes era montada uma trama de paus roliços ou taquara jatevoca, que possui cerne compacto, em posição vertical (pau-a-pique ou barrotes) e horizontal (ripas), amarrada com cipó. Em seguida atirava-se barro ao mesmo tempo do lado de dentro e de fora da trama, o que requeria o trabalho de duas pessoas.

                       

Cabe aqui uma pequena introdução para se entender um pouco sobre a taipa de pilão – e já que não existe nenhuma publicação especializada em barroco paulista –, e talvez para entendermos porque levou tantos anos para se construir principalmente igrejas, no caso a velha igreja da Sé e a de São Pedro dos Clérigos, numa cidade onde não se tinha outro tipo de material para ser utilizado.

A técnica de taipa de pilão foi utilizada como técnica construtiva única na cidade de São Paulo de todo o período colonial, desde os primórdios da fundação do colégio, diante da constatação da falta de pedras apropriadas à cantaria1, de pedras para o fabrico de cal e, ainda, falta de florestas próximas que permitissem o transporte fácil de madeira em grande quantidade. A taipa acabou tornando-se uma marca da "paulistaneidade".

Essas paredes, expostas à chuva direta, eram passíveis de erosão e necessitavam de proteção, com rústicas calçadas de pedra à volta, arrematadas por massa de tabatinga2 e largos beirais que jogassem para bem longe as águas pluviais. Nos arruamentos paulistanos, essa técnica sempre sugeriu que as ruas fossem de pequena declividade, para permitir o escoamento das águas pluviais. Foi desta maneira que as ruas da cidade sempre procuraram acompanhar as curvas de nível e as ladeiras foram as últimas vias a receber construções.

No período de poucos recursos, a arquitetura dos casarios não sofreu muitas mudanças, mas na arquitetura religiosa houve alterações como o desaparecimento gradativo dos alpendres da velha tradição medieval, para dar lugar aos frontispícios classicizantes, caracterizados pelo frontão triangular, janelas de coro e porta central. A torre sineira não foi uma constante.

Este estilo apareceu pelo Brasil afora do início do século XVII até o início do seguinte, e a cidade e adjacências seguiram este estilo com templos singelos, compostos por um frontão triangular, encimado as janelas do coro, que se sobrepõe à porta central. São Paulo, por motivos compreensíveis, não conheceu a arquitetura religiosa barroca.

No segundo quartel do século XVIII, teve o início de "modernidade" nas construções paulistanas com a chegada de profissionais do Reino que introduziram novidades na carpintaria, com o surgimento das "gaiolas", a moda das vergas3 de portas e janelas de arco batido. A peça recurvada talvez tenha sido introduzida na cidade pelo engenheiro Afonso Botelho, primo de Morgado de Mateus, ou talvez por alguma outra pessoa que tenha feito o projeto da Casa da Câmara, no Campo de São Gonçalo, entre 1784 e 1788.

Em 1798, a taipa de pilão continuou sendo a técnica única nas edificações, apesar de o tijolo já ser conhecido na cidade e da cal já ser bastante acessível, pois jazidas haviam sido descobertas em Santana do Parnaíba. Somente com a vinda do imigrante europeu, foi possível mostrar aos paulistas as vantagens da alvenaria de tijolos.


1 Obra de alvenaria feita com cantos. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

2 Espécie de argamassa feita de argila. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

3 Viga de pedra ou madeira que se apóia nas ombreiras de cantaria de portas e janelas. Dicionáriou Houaiss da Língua Portuguesa.

                                       

TAIPA DE SOPAPO                                                                                                          De dentro da casa, atira-se um punhado de barro contra a estrutura da construção, uma parede de pau-a-pique ou um trançado de ramos, por exemplo. Ao mesmo tempo, do lado de fora, outra bola de barro é jogada na mesma direção. Uma cantiga ritmada é entoada e o barro deve ser arremessado a cada tônica.

Assim é feita a taipa de sopapo, segundo o historiador da arquitetura Günter Weimer, a mais comum no Brasil, seguida pela taipa de mão e a de sebe. As três técnicas chegaram ao país com os escravos africanos. Em menor número, também foi trazida para cá, pelos portugueses, a taipa de pilão (o barro é socado no pilão, daí o nome). "Durante 350 anos, praticamente só se usou taipa no Brasil.

Em Minas, a maior parte das igrejas e casarões barrocos é de taipa e é uma arquitetura excelente", afirma Weimer. Construção popular, comum de norte a sul do Brasil, a taipa foi perdendo lugar para a alvenaria, que apareceu por volta de 1850. "Ficou o preconceito de que é coisa de pobre, mas o barro é um material nobre e tem vantagens como não gerar entulho. Se a construção for demolida, vira terra de novo e pode ser usada para plantio", diz Weimer.

*Por Márcia Bindo, Vinícius de La Rocha, Priscilla Santos e Yuri Vasconcelos